"Animação Cultural"; Vilém Flusser: estudo da contemporaneidade
O propósito inicial dos objetos em sua criação é o de servir ao homem nas mais diversas funções, o que denota, portanto, a dominância deste sobre aquele. Contudo, a humanidade desenvolveu extrema dependência para com os objetos ao longo dos tempos, de modo que sem eles o mundo seria completamente 'inanimado'. Logo, é possível observar desde então a inversão de valores na relação homem-objeto - criador e criatura - em que a objetividade é posta em evidência, como uma contra-ação desses seres agora conscientes. A própria complexidade dada aos objetos, que os tornaram peças fundamentais na vida humana e avanços das ciências, é também responsável por essa transformação que se instituiu, enquanto relação interdependente. O objetivo final, portanto, não é reestabelecer a dominância de um sobre o outro, mas revolucionar os valores tradicionais em que a importância de cada um é reconhecida para a existência do outro.
A reflexão e os questionamentos partem da observação do cotidiano, em que dispositivos avançados são agora uma parte indispensável. Nesse sentido, é verdadeiro dizer que a humanidade se torna refém de si mesma e suas criações, tendo em vista as novas tecnologias a qual o homem contemporâneo está sujeito. A preocupação com o rumo da identidade humana e seu contexto social é inerente ao tipo de uso aplicado aos seres atualmente animados, muitas vezes excessivo, que transgride os valores naturais da sociedade. No entanto, não se trata de uma ideia autoritária e de supremacia da objetividade, que vem causando essa revolução. A pretensão maior é aquela em que o objeto seria finalmente visto como parte viva e integrante do mundo que o próprio criou.